Uma meditação sobre o capítulo 6 do Livro de Daniel
INTRODUÇÃO Daniel capítulo 6 conta-nos a tão brilhante passagem de emunah de Daniel na cova dos leões. É uma passagem bem edificante, como tantas que a Bíblia nos conta, e que nos apresenta um exemplo de fidelidade a D’us que somos chamados a imitar. Daniel é, antes e acima de tudo, um crente no D’us de Israel. Isto faz dele uma pessoa de grande valor. É um homem inteligente, que se distingue por suas capacidades (v. 3a), bem como por seu caráter e sua conduta. É alguém irrepreensível, diante de D’us e das outras pessoas (v. 4). Havia nele um “espírito excelente” (v. 3b), frase que sintetiza bem as qualidades de Daniel. A fé no D’us de Israel, faz assim conosco – torna-nos pessoas excelentes, que se destacam, que se sobressaem aos demais. O crente é alguém que se destaca – se não exatamente pelas vitórias que alcança, certamente pelo modo como vive e busca seus objetivos. Pois sabe que mais importante que a vitória em si é a forma como se vence. O fato é que, de alguma maneira, em alguma medida, o crente sempre se sobressai no meio em que vive. Se isso não acontece, alguma coisa está errada. Pois a fé nos faz vencedores – mais que vencedores, supervencedores, dirá o apóstolo Paulo. Se isso gera reconhecimento da parte de alguns, como foi o caso de Daniel na corte do rei, que o admirava e pensava em conferir-lhe mais responsabilidades (v. 3c), abrindo-lhe oportunidades de crescimento e desenvolvimento ainda maiores, em outros, nos medíocres, gera sentimentos mesquinhos e atitudes maliciosas. O modo de ser e de agir de Daniel desperta a inveja dos seus companheiros, que se fazem seus adversários. E preparam-lhe armadilha, querendo derrubá-lo e destruí-lo. Eles é que são os verdadeiros leões da história, ávidos por devorar o justo e santo homem de D’us. Face a uma realidade de injustiça e perseguição, somos, como Daniel, colocados diante de duas alternativas: mudar ou permanecer sendo aquilo que somos; entrar no esquema, tomar a fôrma do mundo, ou correr o risco de sofrer e até morrer. Daniel nos dá uma lição de fidelidade; de fidelidade a toda prova. Seu exemplo nos desafia a mostrar também uma fidelidade como a sua.
I) FIDELIDADE INEGOCIÁVEL Daniel não se deixou intimidar; não modificou sua postura; permaneceu firme na prática de sua fé (v. 10). Abrir mão de sua fé seria abandonar seu bem mais precioso, seria perder sua própria identidade. Daniel bem poderia ter dado um jeito – orando em secreto, por exemplo, com portas trancadas e janelas fechadas. Ou combinando alguma coisa com os agora seus adversários, até então seus companheiros. Alguns pensariam que qualquer uma dessas seria uma solução esperta. Mas Daniel preferiu enfrentar o desafio sem temor. Continuou a agir “como costumava fazer”: orando de janelas abertas, três vezes ao dia, de joelhos, ao seu D’us. Outro procedimento seria tão vergonhoso e desonroso para um servo do D’us vivo quanto deixar de praticar sua fé. Daniel sabia uma grande verdade: Não vale a pena viver a qualquer preço, de qualquer maneira. Ele nunca salvaria a própria pele traindo suas convicções. Jamais abriria mão de seus princípios. Sua fidelidade ao D’us de Israel não estava à venda. Não podia ser negociada.
II) FIDELIDADE QUE RECOMPENSA Veja o v. 23b. Nada de mal aconteceu a Daniel. Pois D’us é fiel, e guarda seus filhos. Só ele pode e quer salvar, sempre (o rei, até quis fazer algo por Daniel, mas não pôde, vítima de sua própria lei – que ironia).
Daniel creu no seu D’us, e foi recompensado por isso. A base de sua fidelidade é a fidelidade do próprio D’us. Fé não é cega: fé cega, faca amolada. Fé não é salto no escuro. Fé é confiança no D’us que se mostra digno de confiança por todo o seu passado e sua história de socorro ao seu povo e aos seus fiéis. Quanto mais o conhecemos, mais nele confiamos. D’us preservou a vida de Daniel, recompensando a sua fidelidade. Note bem: D’us não poupou Daniel de ir parar na cova dos leões, mas não permitiu que mal algum o atingisse. Assim também faz D’us conosco. D’us não nos livra de passar por tribulações, mas não nos deixa sós, nem que sejamos derrotados. D’us preserva não das tribulações, mas em meio a elas (lembrar Is 43.2).
III) FIDELIDADE QUE TRANSFORMA Como gostaríamos de viver num mundo diferente. E quanto esforço as pessoas não têm despendido com esse intuito. Acontece que ações humanas podem trazer mudanças, podem causar agitações, podem gerar transtornos, e tantas vezes o fazem, tornando as coisas piores do que são, mas não podem operar transformações. Transformações efetivas, profundas, verdadeiras, só o poder de D’us pode promover. E só a fidelidade do justo, pode desencadear o poder de D’us que faz o impossível e o impensável. O testemunho de fé de Daniel é abençoado; tão abençoado que produz transformações na realidade em que ele vivia. O rei alterou o seu decreto. Promulgou um novo, que revogou o antigo (vv. 25-27). A firmeza de Daniel levou à glorificação do nome do seu D’us como o Senhor da história e o único libertador dos que nele confiam. Esta é a conseqüência última e mais importante da nossa fidelidade, que deve ser também nossa motivação e nosso objetivo supremos em ser fiéis a D’us: a glorificação do seu nome. Mais uma lição importante dessa história: Somos fiéis não para nossa promoção e benefício pessoais, embora isso nos venha como decorrência de nossa fidelidade a D’us, mas para a promoção da glória de D’us. Pois para isto fomos criados, para gozar a comunhão de D’us e glorificá-lo para sempre, em todo o nosso viver. Não há realidade mais grandiosa do que esta, viver para a glória de D’us.
CONCLUSÃO Daniel é um crente, um justo, um santo de D’us, um homem que se distingue por seu caráter e conduta, que é capaz de enfrentar e vencer as maiores dificuldades. Pessoas como Daniel são pessoas das quais o mundo não é digno, no dizer da Epístola aos Hebreus (11.38). Note que ele é citado entre os heróis da fé (Hb 11.33, que fala dos que, por meio da fé, “fecharam bocas de leões”). Vale a pena ser fiel a D’us como foi Daniel. Pois D’us é fiel, e socorre sempre, livrando até mesmo da morte dada como certa, e abençoando os que seguem seus caminhos. Foi assim com Yeshua, fiel ao Pai até às últimas conseqüências. Yeshua mostrou uma fidelidade a toda prova: fidelidade inegociável, que o fez parar não numa cova de leões, mas numa cruz, onde passou por sofrimentos atrozes e morreu; fidelidade recompensada na ressurreição, a vitória sobre a morte; fidelidade transformadora, que mudou o curso da história e a face do mundo para sempre. Bendita fidelidade, que nos salvou e nos faz querer viver para a glória de D’us, venha o que vier, aconteça o que acontecer. D’us nos ajude a manter e a mostrar, em cada um de nossos dias, e em quaisquer circunstâncias, uma fidelidade a toda prova.
E você já parou para pensar se è fiel a D’us